"Que a vergonha mude de lado" (Giséle Pelicot)

Quando as perversas lentes pornográficas cairão dos seus olhos? Quando um par de seios, nádegas e vulvas deixarão de ser vistos como produtos em uma embalagem, chamada mulher - colocada a disposição de qualquer um. Esse território mulher exige consentimento para ser tocado. Imagine então um corpo em sua infância ou tenra mocidade imaturos para essa escolha? Dissociar o corpo da sua identidade, é objetificar o ser e justificar sua posse, seu uso e descarte. Estupro é um sórdido prazer conspurcado cujo rastro em nosso mundo é gerador de mortes, traumas e dores sem fim. Por tempo demais, em verdadeiras histórias de terror boiaram corpos diversos em mares de sangue: bebês, crianças, meninos e meninas, corpos femininos de todas as idades, corpos masculinos, corpos trans. sem vida, sem dignidade ou mortos em vida arrastando as correntes da vergonha, do medo ou da deslegetimidade. A vítima convertida em algoz - medusas sombrias - petrificadas. D...