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Como não funcionar em modo máquina

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  “ E no centro da própria engrenagem  inventa a contra mola que resiste.” (Secos e molhados) Somos todos escravos do Capital  E todos, sem exceção,  sofrem com algum nível de chibata e sujeição. Viver sob essa égide, não significa proteção,  ao contrário, é ser roubado em tempo, vida e libido.  Tudo é drenado por seus tentáculos de produção, maquinários excludentes  projetados para funcionar ao modo humano enquanto o humano é levado a funcionar em modo máquina. Me ressinto do tempo que não sobra para desfrutar do céu,  do sono, da companhia de quem amo. Tudo é corrido e feito as pressas:  Um café, uma palavra, um olhar.  E como sabemos que o prazer logo vai acabar  Sugamos com uma ânsia nunca satisfeita. Atravessamos estes tempos como sonâmbulos, como fantasmas, como zumbis. Bombardeados de absurdos e insensatez.  Perplexos e mudos,  engolindo conteúdos projetados para embalar produtos  que nos adestram a consumir, c...

Ao som de “Satisfy my soul”

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Não tenho nenhum problema com a Morte, desde que ela venha com beleza. E por beleza quero dizer: paz, rendas brancas e sorrisos  que possam me amparar na travessia. Lamento todo tempo que não posso viver em beleza. E por beleza quero dizer: leveza, inteireza e presença. Nada a desculpar por aqui. Tudo seguiu o rumo que precisava seguir em consonância com quem éramos. Muitos erros foram irreparáveis,  isso é tudo.  E do que restou pegamos o melhor retalho, cozemos uma colcha que há de nos aquecer com a sabedoria. Os erros são um dos grandes mestres da Sabedoria.  Só resta saber se aprendemos  ou seguimos cometendo os mesmos erros  novamente. Cada vez mais compreendo o Tempo como  Veste da Transformação. Nada é, tudo está. E não dá para se agarrar na flor  nem na essência. Somos seres do agora. Seja flor enquanto flores -ser. Essência enquanto durar a fragrância. Independente do que foi ou será  sempre seja presença   (Tati Moreira)...

O peito do primeiro companheiro

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Quando eu era criança,  menina medrosa, meu pai deitava-se comigo até eu adormecer. Eu pousava a cabeça em seu peito largo  e acompanhava a cadência - sobe e desce  da sua respiração. Acalentada pelas batidas do seu coração iniciava minha cavalgada pelas planícies dos sonhos. Sua presença gigante  aquietava os medos afugentava os fantasmas. Sua presença masculina ensinou-me o apreço de outras presenças masculinas. Outros peitos largos onde repousar a cabeça, outras cadências de respiração a me conduzir pelos caminhos do sonho e do êxtase. Mas nunca aquietaram meus medos ou afugentaram os fantasmas. Ás vezes no meio da noite  a criança acordada em mim se lembra da noite em que você se foi, mas me deixou um bonequinho de casca de melancia  para adoçar o amargor da sua ausência   e preencher o vazio que ficou.  (Tatiane Moreira ou como uma menina de oito anos recorda seu pai) Artista: Jen Norton (disponível em:https://fineartamerica.com/profiles...

Canção de ninar

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  Como na história do velho que se arrasta com dificuldade pela floresta escura levando um lampião, cuja a chama, a cada passo  está cada vez mais baixa. Você também se arrasta pelas horas escuras de cada dia  com seu sopro de vida cada vez mais tênue. Seus olhos se fecham e se demoram mais para abrir, seus suspiros profundos preparam a alma para partir. Quais paisagens, mãe, seus olhos cor de folhas secas  enxergam agora?  Nelas estão as mudas que você replantava em um dos últimos sonhos que me contou? Não compreendo mais as suas palavras tento adivinhá-las e peço que não desista de se comunicar comigo. Como na história do velho que se arrasta pela floresta  rumo a uma casinha iluminada, com uma fumacinha fina saindo pela chaminé. Assim que ele chega a porta, seu corpo frágil  cai nos braços de uma mulher forte. Possa também seu corpo frágil  ser amparado por mãos amorosas  que te carreguem para perto do fogo para te aquecer e ninar. Pronto,...

Mãe - eterno amor

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  É agora seu corpo de passarinha que não voa mais A cabeça que se deixa pender feito flor se despedindo da haste  Mas ainda em seus olhos a luz da vida cintila Brilhando mais intensamente antes de se apagar Antes de você se calar ainda foi possível desembolar com os ouvidos  as palavras da sua voz Agora apenas os seus olhos falam de dores e necessidades impronunciáveis E por vezes o seu sorriso surge tímido e tingido de dor É gozado mesmo, mãe - você tem toda razão, (sempre teve!) É mesmo uma paulada a dor de assistir  O sofrimento dos seres amados Assistir  a vida se esvaindo  feito fragrância sumindo  e deixando um rastro imensurável de saudade e eterno amor (Tatiane Moreira Ferreira filha de Edna Moreira Ferreira) Mãe, primeira e última palavra. Gratidão!

"Que a vergonha mude de lado" (Giséle Pelicot)

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  Quando as perversas lentes pornográficas cairão dos seus olhos? Quando um par de seios, nádegas e vulvas deixarão de ser vistos como produtos em uma embalagem,  chamada mulher - colocada a disposição de qualquer um.  Esse território mulher exige consentimento para ser tocado. Imagine então um corpo em sua infância ou tenra mocidade imaturos para essa escolha? Dissociar o corpo da sua identidade, é objetificar o ser  e justificar sua posse, seu uso e descarte. Estupro é um sórdido prazer conspurcado cujo rastro em nosso mundo é gerador de mortes, traumas e dores sem fim. Por tempo demais, em verdadeiras histórias de terror  boiaram corpos diversos em mares de sangue: bebês, crianças, meninos e meninas,  corpos femininos de todas as idades, corpos masculinos, corpos trans. sem vida, sem dignidade ou mortos em vida arrastando as correntes da vergonha, do medo  ou da deslegetimidade.  A vítima convertida em algoz - medusas sombrias - petrificadas. D...