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Cuidado com a distância

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  Nas avenidas, próximo ao trabalho, estão construindo um viaduto.  E para isso a velha Flamboyant foi cortada. Ontem, eu quis fazer uma fotografia da velha Flamboyant e não fiz.  Agora tenho apenas o que fotografei com a memória. Mas a memória falha! Já tenho dúvidas se as flores eram laranjas ou vermelhas?  Laranjas e vermelhas? Tenho certeza absoluta de uma memória:  Após uma forte tempestade, uma faixa que o vento trouxe  envolveu os galhos da velha Flamboyant.  Ela parecia segurar a faixa como uma campeã.  Há quantas tempestades sobreviveu? Hoje pela manhã, ao ver todo terreno ao seu redor já delimitado,  considerei a possibilidade dela ser cortada  e mentalmente lhe enderecei palavras de liberdade,  da sua vida para além daquela forma de árvore,  da sua volta ao universo circundante.  Agradeci por ela estar ali pelo meu caminho  e por termos atravessado juntas este mesmo tempo histórico.  E já no final do e...

Pós-verdade e fuligem

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Estação do Metrô Central, outrora pertencente a antiga Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Belo Horizonte, hoje privatizado e "ornamentado" a pobre e tosca imagem de um supermercado. Nenhuma janela de transcendência para além de rótulos e preços, na era do Homo Consumens.  Acervo pessoal, 2024.  Na era da pós -verdade,  repleta de mitos infundados, o que é fato: é essa fuligem opaca  descolorindo os dias. Tudo parece arder, virar fumaça, especialmente se for mata, se lembrar um quilombo,  se for terra indígena.  O capital, enfim, precificou todas as almas. Cada altar, cada ação  tem a marca do seu cifrão característico. Nem tudo o que reluz é, mas tudo o que reluz é sombra humana  do que um dia, chamamos vida.  Como continuar? Com qual utopia?  Nenhuma ilusão de solidariedade e partilha  subsistem aos contratos de grilagem.  Apenas aparências: frágeis, turvas, oásis artificiais.  Tudo. Todos? Perseguindo algum ...

Das coisas que aprendi ouvindo Rita Lee - Menopower!

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  Vestida para matar em pleno climatério ... Assim começa a canção, alguns anos atrás era uma realidade distante e a música já me preparava, hoje ela me atravessa de outra forma. Vestida para matar talvez se relacione com essa esfera de raiva que tem sido constante, especialmente quando estamos mais conscientes de quem somos, das nossas contradições, limitações e também toda a possibilidade que a vida poderia ser se nossa costumeira mediocridade permitisse.  Lidar com a raiva é estar consciente dos limites e das formas que ultrapassamos ou permitimos que nossos limites sejam ultrapassados. Reconhecer a raiva é reconhecer a necessidade de nos resguardar frente aos disparates humanos que vivenciamos.  A velha senhora só vai ficar mocinha no cemitério .... Reconhecer nossa finitude e a impossibilidade de retorno ao começo é caminho do amadurecimento. A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer? (Toquinho) Quanto dessa fixação na juventude nos impede de enfrentar as d...

- Poema da Filha da Terra -

 

Ensaios de despedida

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Quando você começou a morrer  Parte de mim também  entrou no processo. A dor, essa barca escura  já está ancorada no cais guiando os seus passos  para a longa viagem. Seu braço paralisado, suas lágrimas inconsoláveis  e não há nada que eu possa fazer para minimizar tudo isso.  Assisto atônita, em mudo desespero, com medo da amarga notícia.  Revisitei minhas gavetas de filha  todas as lembranças dobradas, devidamente atualizadas. Penduro no varal da memória as mais caras: nós dançando na chuva de um domingo qualquer, partilhando a mesma mesa e o sabor do seu tempero inconfundível, trocando confidências, lamentando juntas as marcas da vida, tomando nosso café amargo. Não há nenhuma dívida pendente. Eu compreendo: cada um só dá o que pode  dentro das condições impostas pela existência. Tudo o que posso é agradecer de coração  e guardar bem junto do peito  sua imagem me acenando da janela de um domingo qualquer. (Tatiane Moreira Ferreir...

Eu te amo

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Homem, eu te amo. Não como amei no passado  outros homens, quando eu ainda não era minha e tudo era carência, desencontros e opressões. Amor que não se podia.  Nem permitia entrega, descanso, confiança. Os braços destes homens  foram pousos, foram pausas para alçar voos mais longos e mais distantes em mim mesma. E o procurando sem saber que te procurava, terminei te encontrando.  Homem, eu te amo. Sabendo-te meu, assim como me sinto sua. Possuindo-te enquanto essa for nossa livre escolha. (Tatiane Moreira ) Fotografia do arquivo pessoal de Tatiane Moreira