Como não funcionar em modo máquina

 

“ E no centro da própria engrenagem

 inventa a contra mola que resiste.”

(Secos e molhados)

Somos todos escravos do Capital 

E todos, sem exceção, 

sofrem com algum nível de chibata e sujeição.

Viver sob essa égide, não significa proteção, 

ao contrário,

é ser roubado em tempo, vida e libido. 

Tudo é drenado por seus tentáculos de produção,

maquinários excludentes 

projetados para funcionar ao modo humano

enquanto o humano é levado a funcionar em modo máquina.


Me ressinto do tempo que não sobra para desfrutar do céu, 

do sono,

da companhia de quem amo.

Tudo é corrido e feito as pressas: 

Um café, uma palavra, um olhar. 

E como sabemos que o prazer logo vai acabar 

Sugamos com uma ânsia nunca satisfeita.


Atravessamos estes tempos como sonâmbulos, como fantasmas, como zumbis.

Bombardeados de absurdos e insensatez. 

Perplexos e mudos, 

engolindo conteúdos projetados para embalar produtos 

que nos adestram a consumir, consumir e sumir. 


Como aves estressadas que arrancam as penas, 

arrancamos os fios dos cabelos, 

a pele dos lábios,

roemos as unhas, 

mutilamos com gilete o antebraço. 


Quero abandonar o modo sobrevivência

alcançar uma vivência mais genuína

compatível ao ser humano.

Para isso devo voltar aos princípios dos povos originários

e sua transcendente relação com a Terra e a vida de todos os seres.

Devo voltar ao plano dos cativos para encontrar Palmares.

Devo me rebelar contra os opressores

fazer resistência, não sucumbir a sua lógica homogeneizante,

ignorar suas ordens, cavar buracos, saltar muros.


Principalmente  resistir aos opressores que vivem dentro de mim 

e me fazem negar meu sagrado direito de viver e vicejar,

e me obrigam a comungar do amargo corpo do Capital. 

(Tatiane Moreira Ferreira) 


Obra do artista Cho por ocasião do 5º prêmio Décio Noviello - 
                               Artes visuais

“Comprovante” – Utilizando algo comum do dia a dia – papéis de cupom fiscal –, o artista paulistano Cho materializa a opressão do trabalho. O autor questiona as relações de trabalho a partir de sua própria trajetória, desde suas vivências em restaurantes onde trabalhou até a Faculdade de Artes Visuais da UNESP (Universidade Estadual Paulista). “Comprovante” aborda o mundo do trabalho de forma material, a partir dos papéis e maquininhas de cartão, instigando a problematização das rotinas dos trabalhadores para o público. O suporte escolhido também abarca outra camada de entendimento: o apagamento. Com a exposição diária à luz, os papéis termossensíveis provavelmente irão desbotar, marcando a ação do tempo sobre o material. (Disponível em: https://fcs.mg.gov.br/evento/5o-premio-decio-noviello-de-artes-visuais/) 



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