Canção de ninar

 

Como na história do velho que se arrasta com dificuldade pela floresta escura

levando um lampião, cuja a chama, a cada passo 

está cada vez mais baixa.

Você também se arrasta pelas horas escuras de cada dia 

com seu sopro de vida cada vez mais tênue.

Seus olhos se fecham e se demoram mais para abrir,

seus suspiros profundos preparam a alma para partir.

Quais paisagens, mãe, seus olhos cor de folhas secas 

enxergam agora? 

Nelas estão as mudas que você replantava em um dos últimos sonhos que me contou?

Não compreendo mais as suas palavras

tento adivinhá-las e peço que não desista de se comunicar comigo.

Como na história do velho que se arrasta pela floresta 

rumo a uma casinha iluminada,

com uma fumacinha fina saindo pela chaminé.

Assim que ele chega a porta, seu corpo frágil 

cai nos braços de uma mulher forte.

Possa também seu corpo frágil 

ser amparado por mãos amorosas 

que te carreguem para perto do fogo para te aquecer e ninar.

Pronto, pronto. Calma, calma. 

Pronto, pronto. Calma, calma. 

Assim ninam o velho na história.

Pronto, pronto. Calma, calma. 

Não se preocupe mais, fique tranquila. 

Essa é minha voz de filha e da mulher forte que você educou.

Pronto, pronto. Calma, calma. 

Como na história do velho frágil que vai rejuvenescendo ao ser embalado no colo da Mãe Maior,

que você possa ir se remoçando, se refazendo da longa jornada.

Como na história eu já sei onde vou de encontrar:

no glorioso sol da manhã. 


Com amor, Tatiane Moreira Ferreira para minha mãe. 

Sol sobre a Sumaúma
(Arquivo pessoal da autora) 




 

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