Ádil e os leões em mim

 

No mapa da jornada da alma

Rastros de patas de leões

Me rodeavam pelos caminhos.

Assombravam meus sonhos noturnos,

Roubavam minha presença e alegria.

Fugi.            

E quanto mais longe eu ia

Mais perto o leão ficava.

Rugia, assombrava, assustava.

A face de Allah para mim

Era “O que desonra”, “O que rebaixa”,

Não conhecia “O protetor”, “O capaz”.

Minha espada não tinha corte, nem brilho.

De fuga em fuga

Os ouvidos foram se abrindo;

O paladar, temperado;

O olfato, desenvolvido;

A visão, até então míope para as realidades sublimes

Não resistiu frente a beleza

Que me apresentou faces de Allah que eu desconhecia:

“O que honra”, “O que tudo perdoa”,

“O compassivo”, “O que reúne e unifica”.

O leão nunca esteve fora,

Mas aqui, dentro do peito, rugindo

Seus infindáveis desejos.

Fortaleci-me na beleza.

Banhei-me na verdade.

Afiei a espada e cavalguei com coragem

E nunca mais permiti que o medo me dominasse.

Assim como a morte, o medo também é um conselheiro.

É preciso escutá-lo, sem perder a fé, a confiança.

O Caminho foi generoso

 Me permitiu pernoitar

Em tendas e castelos.

E o tempo todo colocou um espelho frente à minha face,

Como um lembrete para que eu não me acomodasse;

Como um chamado em honra aos meus ancestrais e suas inúmeras marcas em minha jornada.

Amargura é o não brotar da semente e fugir da própria história

Enquanto um casamento sagrado nos espera,

Na transformação alquímica de um leão sem rédea

Em um leão capaz de saudar minha presença: Eu sou!

Uno com Allah, "O misericordioso", "O clemente".

(Poema de Tatiane Moreira para o encerramento da oficina "Contos e caminhos iniciáticos" "Ádil e o leão", ministrada por Gislayne Avelar Matos em outubro e novembro de 2020.)





Bordados artísticos de Ana Teresa Barboza, nascida em Lima/ Peru.



 

 

 

 

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