Canção para um jovem amante

 

Canção para um jovem amante


Muito além de uma inspiração masturbante,

o desejo é o que vibra em nossas entranhas.

Terreno estranho que não cabe asco

tudo tem sabor, cheiro, textura.

E se não for para se embriagar inteiro

é perda de oportunidade de encontro

seja entre dois ou mais seres.

Ninguém te falou, mas eu disse:

- A sexualidade é sagrada, tanto para os santos quanto para os hereges.

É nela que geramos vida, não só a possibilidade de um corpo,

mas a troca de energia, a geração de memória,

a história e a fala dos corpos que se penetram.

Quem penetra e quem é penetrado?

Não se pode dizer.

É o terreno do sentir e sentir basta.

Os limites do eu se dissolvem, são as águas a nos fertilizar.

É tudo tão rico que não cabe a pobreza das repressões,

os nãos vividos, as não entregas, os não-me-toques.

Quando estiver diante de outro ser – se entrega.

Vá além da performance.

Cada corpo é um instrumento que é preciso aprender a tocar.

E instintivamente sabemos, 

assim como sabíamos o movimento para nascer 

e corajosamente atravessamos o canal vaginal da nossa mãe.

É só se deixar guiar pelo faro e não se ater só ao próprio prazer.

Alteridade! Fazer ao outro o que quer que lhe seja feito.

Partilhar o corpo, o sabor, o gozo.

 Assim, o que permanecerá ao fim

é o doce nos lábios sempre pedindo por mais.

(Tatiane Moreira) 


Obras artísticas de Teresinha Soares. 

Imagem 1: Casa suspeita.  Coleção da artista. Belo Horizonte. 

Imagem 2: Morra usando as legítimas alpargatas (da série Vietnã), 1968. Coleção da artista. Belo Horizonte. 

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