Procura-se imóvel de movimentada poesia
Olho para casas como se procurasse parceiros para uma
relação a longo prazo.
Tento sentir a energia, se há afinidade para longas horas
de trocas dialógicas.
Se as janelas me sorriem, se a porta se abre.
Se há flores selvagens brotando em alguma fresta.
Se há espaço para festa e celebração da vida.
Quais sons ela emite? Qual memória guarda?
O cheiro é bom? Tem personalidade?
Possui algum vão secreto para a gente se amar?
Quais goteiras esconde para chorarmos juntos?
Há carinho sob a pintura descascada?
Tem algum projeto de floresta no quintal insuspeito?
Possibilidade de produção e tráfico de sementes crioulas
para futuros campos férteis?
Olho para casas como se procurasse parceiros para uma
relação a longo prazo.
De vigas inabaláveis, feito braços longos e firmes para a
donzela repousar.
De muros protetores contra invasores.
Felinos contra ratos.
De palavras doces e olhar manso daquele que já sabe que não
vale a pena viver em estado de guerra, pois a vida é ligeira.
Que se colora com a passagem do tempo a cada hora do dia
entre tons quentes e frios.
Que saiba acolher o visitante esperado e também o
inesperado.
Com espaço para ninhos e para crianças brincar.
Com a sombra de idosos na varanda saudando a quem passar.
Olho para casas como se procurasse parceiros para uma
relação durável.
Não me interessam fachadas sóbrias ou arquiteturas em voga.
Quero o que é simples, imperfeito, mas visceralmente real.
Inteiro em sua vulnerabilidade, sem máscara, agressividade
ou fuga.
Disposto a entrega. Com abertura para nascimentos e lutos.
Casamentos e partidas.
Imóvel de movimentada poesia, alvenaria de nostalgia.
Com jardins visíveis e suas rosas que não falam, mas exalam
Toda alegria que mora ali.
(TMF)
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