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Mostrando postagens de março, 2022

Tempos liquidamente complexos

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O desamor destes tempos complexos tem me feito chorar e perder o sono. Solidariamente estou ao meu lado e seguro minhas próprias mãos quando a angústia e o desespero me visitam. Noites escuras são seguidas por noites escuras, a desumanidade das notícias afetam nossa sanidade e é preciso grande esforço para não sucumbir. Minha subjetividade está manchada por rios poluídos (acaso não sabem que um rio é como um Deus?) e várias poças de sangue facilmente evitáveis se a vida, não o patrimônio, fosse o maior bem a ser preservado. Aqui dentro do peito há um buraco escavado por tantas ações mineradoras, exploradoras e destruidoras da nossa integridade, saúde, beleza e força. Sob a égide do capitalismo nos tornamos também exploradores uns dos outros, arrancando o que queremos das nossas relações e sem qualquer cerimônia, partimos, deixando para trás um rastro de desmatamento e garimpo ilegal nos corações alheios. O amor também está contaminado por mercúrio, não apenas os rios. As relações não...

Dobradura

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  Tirei o coração do peito E fiz uma dobradura Para esconder sua voz E a ausência de candura Marquei bem os vincos Onde se prendeu nossos corpos Puxei as dobras Só não sei o que fazer Com o vão aberto E sem possibilidade de embocadura Assim não teremos o som de nós Quando se sopra E nem um beijo demorado de língua Você varreu minha mão do seu peito Como se espantasse um inseto Por isso tirei o coração do leito E fiz uma dobradura Escrevi em meu caderno Sobre afetos que caíram entre os espinhos E vivenciaram sufocamentos Enrolei ataduras Na dobradura de coração Para a dor permanecer muda (Tatiane Moreira em 01/03/2022) Imagem de Derek Jones