Espelho da vida
Ventania de agosto Varrendo o que sobra do inverno Olhos em vigília Os dissabores da vida ventam sobre mim O que estariam varrendo? A alma não adormece Analisa, busca saída Se desespera É isso mesmo vida? As questões não mudam É sempre a mesma luta contra as misérias humanas: a inveja, o egoísmo, a soberba Mãos incapazes de se estender em auxílio e que só apontam erros Onde há um espelho capaz de mirar no que é belo? Capaz de contemplar diferenças, não como deficiências Mas como essenciais à vida? Essa ventania juntando tudo o que está ao rés do chão Recorda que apesar da solidão na qual caminhamos O movimento da própria vida é juntar o que está separado É sempre soma, não subtração Combinação de habilidades num coral de vozes E que embora cada voz seja única, unidas é que alcançam melhor tom Arte de Daiara Tukano, Kahtiri E'õrõ - Espelho da vida, 2020. Exposto na 34ª Bienal de São Paulo.