688 mil motivos

Espero despertar desse pesadelo coletivo 

que já dura quatro longos anos,

perdemos tanto, choramos muito.

E ainda há aqueles que sustentarão o mesmo voto

esquecidos das 688 mil vidas perdidas.

O negacionismo os cega e não apenas.

Alegarão a importância da pauta econômica,

cegos para o crescente número dos sem-teto

e a pobreza avassaladora sob marquises e viadutos.

Nosso analfabetismo político misturado em “fake news” e máximas bíblicas

obscureceu a razão.

O grave problema é que a razão adormecida produz monstros, 

já alertava Goya em 1799.

O preço do leite, do óleo de soja ou de um simples sabonete 

os tornaram artigos de luxo para muitos bolsos.

E há quem diga nunca ter visto alguém pedir pão no caixa da padaria. 

Nossas afirmações estão matizadas por nossos lugares de fala, 

é preciso sair do exercício da cegueira contumaz para ver.

Como presidente, como vou combater a fome, a miséria 

se insisto em negá-la? 

Se diante da dor do outro procuro invalidá-la? 

Quanto mais de sangue indígena derramado 

ou contaminado com mercúrio? 

Quantos rios, árvores, solos corrompidos para a geração estéril dos lucros? 

Pacotes de venenos já estão em nossas mesas e adoecem nossos corpos,

aqueles que o aprovam recebem o estranho nome de deputados do câncer.

Assim a boiada passou e continua passando enquanto a razão jaz adormecida

sonhando um Cristo com uma arma na mão.

Não é mais possível para o bem da minha sanidade ouvir defesas do que é indefensável.

Mais de 51 milhões de votos, pessoas -

refazendo a mesma nefasta escolha.

Ignorando 688 mil vozes silenciadas 

enquanto bastaria não negar a pandemia, 

defender medidas necessárias de isolamento 

ou de cuidados básicos quando este isolamento não fosse possível.

Bastaria confiar na ciência e continuar investindo em nossas universidades e pesquisas.

Agilizar a compra das vacinas, e como líder máximo da nação, dar o exemplo.

688 mil vozes silenciadas deveriam ser motivos suficientes para outra escolha 

que não seja a morte, a fome, a tortura.

Espero despertar desse pesadelo coletivo 

que já dura quatro longos anos,

perdemos tanto, 

choramos muito.

(Tatiane Moreira em forte tensão pré- eleitoral!) 



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