Hoje é dia para um chá bem forte de Artemísia
Aprendi que nos dias mais apertados, para não dizer aflitivos (mesmo existindo aqueles que afirmarão: não há motivo para aflição em sua vida!), é tempo de preparar uma boa xícara de chá quentinho de Artemísia. "Artemisia vulgaris" de muitos nomes populares, perigosa por ser abortiva, desejada por acalmar os nervos.
Na mitologia grega, Ártemis é aquela que ao nascer ajudou sua própria mãe a dar à luz ao seu irmão, Apolo. É justamente desta ajuda que preciso, seja para parir ideias, poemas, seja para menstruar sem dor, para acalmar os pensamentos e estar só comigo mesma, assim como Ártemis viveu, só consigo mesma.
Então me desculpem se hoje estou com menor repertório de palavras e mais de sons, se as lágrimas rolarem sem cerimônias e minha espada afiada ir mais fundo do que deveria. É tudo culpa da lua que me atravessa e me faz meio bicho. Não vai dar para ser razoável ou usar a lógica, os pelos se eriçam, a audição fica sensível e não quero que me toquem, nem que me vejam. Tateando, sei me guiar por essa escuridão onde lobo, cachorro e um lagostim espreitam em uma paisagem sombria. Conheço os pontos sensíveis e dolorosos, ao contrário da forma como tantos agem, eles não são para serem evitados, mas massageados diretamente e com a mão mais delicada, dedicada a tocar-se, sentir-se, viver-se.
Ainda que com o sabor amargo do chá de Artemísia. Delicioso amargor.
(Vai uma xícara de chá aí?)
Tatiane Moreira
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