Escrever para não pirar

 E cá estamos na estranheza dos dias velozes... 

Lucy Campbell

O carnaval passou, como de praxe trouxe sorrisos 

(ritualisticamente segui o bloco para não ficar ruim da cabeça, nem doente do pé)

e tristezas (tem sempre alguém que não voltará vivo para casa:

um acidentado, um afogado, um assassinado, um desaparecido).

Placas tectônicas mostraram o quanto a terra está viva, movente. 

E isso não será o bastante para despertar os seres humanos dormentes.

A síndrome de Burnout segue em alta 

mostrando o quanto a forma como labutamos no ofício de cada dia  

adoece a alma, essa instância do ser que carece de tempo e espaço

para viver mais devagar, 

respirar mais profundamente e degustar os minutos 

em vez de engolir as horas em ações desprovidas de sentido.

O feminicídio mancha as notícias todos os dias, todos os dias,

os estupros ainda indicam a perversão dos costumes

e eu finjo normalidade nessa terra insana. 

Anoitece lá fora e aqui dentro.

Um pássaro escuro passou rápido pela janela. 

Baratas voadoras teimam em invadir minha casa.

Faz um calor do inferno.

Na questão dos paradoxos há chuva em excesso e seca.

Palavras em demasia que nada dizem, conteúdos extensos  

para militâncias de todas as ordens:

as urgentes e necessárias, as banais e ultrapassadas 

como alguém escrever sobre submissão aos maridos.

2023! O tempo segue, enquanto nos arrastamos sob novas ordens 

ainda pela velha manutenção do capital, 

não importando quantos corpos, sejam de yanomamis, negros e mulheres,

jazem pelo caminho.

Frente a este horizonte qual esperança é possível?

Uma que não se traduz como fuga ou romantismo.

Uma que soe como resistência visceral e amor à vida!

Rebeldia para seguir na contracorrente, plantando sementes, 

regando as plantas, alimentando os peixes, amando e sendo amado,

parindo com prazer o próprio ser na sombra e luz de cada dia. 

(Tatiane Moreira)


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