A tabagista
Durante muito tempo tratei com a fumaça do tabaco as minhas feridas. Noites insones, amores desfeitos, angústias vividas, palavras dolorosas ouvidas, palavras silenciadas - tudo motivo para um trago profundo. Tudo transformado em fumaça cinzenta e triste. Feito arma apontada para meu próprio peito e por mim mesma. Fuga, medo, covardia frente as visitas da dor. Durante muito tempo tratei com a fumaça do tabaco as minhas feridas. Como um legado amaldiçoado de família, na linhagem feminina, os lábios escuros daquelas que não conseguiram se exprimir. O povo terena tem no mito da origem do fumo, a história de uma mulher que não gostava do marido e por isso resolveu fazer um feitiço. Ele descobriu e lhe devolveu o mal em uma tigela de mel misturado com vísceras de cobra venenosa, ela saboreia. Ao descobrir isso, a mulher sai em perseguição para devorar e matar o seu marido. Ela cai em uma armadilha que ele havia feito há muito tempo, do buraco onde ela caiu ...