A velha
A velha, que aos poucos vou me tornando me espreita através do espelho. Seus olhos muito sérios pedem atenção para as tramas que teço, as escolhas que faço e me fazem sentir cada passo, cada pedaço de caminho trilhado até então. Da infância, não se esqueça da criança. Mantenha seu cultivo clandestino de esperança. Guarde como um tesouro as memórias de alegria. Se mantenha curiosa e em estado de aprendiz. Tenha gratidão pelos pais que a receberam, as mãos que te devotaram cuidado e nutrição. Sabemos que há marcas: a inocência perdida em carinhos inapropriados e todo sabor de culpa na descoberta territorial do corpo; as lágrimas salgadas pelos mortos queridos - pai, avós, tios - eles nunca mais voltaram, mas também, de certa forma, nunca partiram. E me visitaram em sonhos e me comporam de lembranças e ausências. Da adolescência, carregue as descobertas: o bico do seio nu apontando para o sol, as perambulações calçada com as botas de fuga, os amore...