Onde está o corpo artístico transcendente?
Quantas canções não foram compostas?
Quantas poesias deixaram de ser gestadas?
Livros que poderiam ter sido escritos,
histórias narradas,
desenhos, pinturas, danças.
Tanta arte impedida de vir à vida
porque todo corpo do trabalhador
é campo de usufruto do capital.
Nele cabe a função do seu serviço,
não o corpo artístico transcendente.
Este está sacrificado em 44h de trabalho semanais ou mais,
sacrificado em horas de migrações pendulares
na eterna ida e volta para casa
convertida em espaço dormitório
para um sono que não vem.
A arte carece de tempo,
de andanças livres,
perambulações.
Quando nossas vidas se converteram em modos de consumo,
em peças facilmente substituíveis nessa carcomida engrenagem social
perdemos a propriedade da nossa alma.
Trocando nossas expressões viscerais por cifrões,
sempre insuficientes em nosso bolso.
O trabalhador que esquece sua humanidade,
suas necessidades, seu sonhos
vira máquina.
É só um corpo funcional, utilitário.
Esquecido do descanso que alimenta e repara seu corpo.
Esquecido da arte que alimenta e liberta seus horizontes.
(Tatiane Moreira)
Grafite fotografado no Rio de Janeiro em 28/01/2024. |
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