Ensaios de despedida
Quando você começou a morrer Parte de mim também entrou no processo. A dor, essa barca escura já está ancorada no cais guiando os seus passos para a longa viagem. Seu braço paralisado, suas lágrimas inconsoláveis e não há nada que eu possa fazer para minimizar tudo isso. Assisto atônita, em mudo desespero, com medo da amarga notícia. Revisitei minhas gavetas de filha todas as lembranças dobradas, devidamente atualizadas. Penduro no varal da memória as mais caras: nós dançando na chuva de um domingo qualquer, partilhando a mesma mesa e o sabor do seu tempero inconfundível, trocando confidências, lamentando juntas as marcas da vida, tomando nosso café amargo. Não há nenhuma dívida pendente. Eu compreendo: cada um só dá o que pode dentro das condições impostas pela existência. Tudo o que posso é agradecer de coração e guardar bem junto do peito sua imagem me acenando da janela de um domingo qualquer. (Tatiane Moreira Ferreir...