Pós-verdade e fuligem
Na era da pós -verdade, repleta de mitos infundados,
o que é fato: é essa fuligem opaca descolorindo os dias.
Tudo parece arder, virar fumaça,
especialmente se for mata,
se lembrar um quilombo,
se for terra indígena.
O capital, enfim, precificou todas as almas.
Cada altar, cada ação
tem a marca do seu cifrão característico.
Nem tudo o que reluz é,
mas tudo o que reluz é sombra humana
do que um dia, chamamos vida.
Como continuar? Com qual utopia?
Nenhuma ilusão de solidariedade e partilha
subsistem aos contratos de grilagem.
Apenas aparências: frágeis, turvas, oásis artificiais.
Tudo. Todos?
Perseguindo algum ganho,
direto ou secundário.
Alguma forma de poder, de destaque.
Um sentido que inebrie, que transcenda
a própria condição humana
em seu pesadelo demoníaco
de servir-se dos outros
para o vale tudo do seu sórdido prazer.
(Tatiane Moreira Ferreira)
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