Ouvidos de Vênus


 

Derrama as palavras

como líquida água benta  

aquecida e fervorosa

na minha escuta atenta.

Na beira das orelhas ansiosas

por partilhas reais e desnudas 

desfaça-se de inúteis verborragias.

Nos ouvidos de Vênus

só há espaço para o essencial,

para o visceral,

para o que é real.


Escutar é minerar ouro.

Não valem cascalhos duros e frios.

Não valem palavras vazias, 

ainda que travestidas de pomposo discurso. 

Vale o que o coração pulsa.

Valem os gritos do âmago.

Vale o desejo quase suicida de se entregar inteiro.

Nos ouvidos de Vênus 

os sons entram descalços, 

deslizam cuidadosos 

para o alcance de uma fusão poderosa 

que chamamos de compreensão. 

Fala, mas pesa as palavras.

Recorda de Anúbis pesando o coração dos mortos no submundo.

Assim como o coração, as palavras devem pesar feito pena.

Nem mais, nem menos. 

(Tatiane Moreira)







Comentários

  1. Me engravidei das suas palavras amada Tati. E silenciosamente deixo que elas percorram meu sangue e nutra o cordão Um-bilical que une a todas nós, mulheres despertas. Peço sua licença para partilhar essa linda poesia com os devidos créditos. Gratidão Irmã.

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  2. A Tati toca sensivelmente nosso corpo etéreo, feito música suave
    , Canto de anjos nos ouvidos atentos, fotos por Venos... Tati é água! Lava a alma!

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    1. Lindo, verdadeiro e profundo poema querida amiga irmã! Gratidão por estarmos conectadas. Abraço.

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