Dando conta de mim

 Aprendi a dar conta da minha bagunça.

A cuidar de mim através do manejo com as plantas,

Regá-las com regularidade, coloca-las ao sol.

Para vicejar eu também necessito

De água em abundância e sol para aquecer a vulva.

Tudo o que está por fazer, será feito

Em acordo com o tempo interno.

Por agora me debruço na janela

Para esperar a lua.

Preencho com música todos os espaços possíveis

E danço nua com a luz apagada.

Atenta, vigio o fogo interno e me deixo arder pela vida.

Aprendi a dar conta da minha bagunça.

Sem correr dos desafios, apesar do medo.

A encarar a dentada da solidão sem me afogar nas lágrimas.

A suturar os cortes que se abrem de novo, e de novo, e de novo.

Por isso faço da esperança o pão nosso de cada dia.

Varro as insignificâncias e assim recupero dracmas e mais dracmas perdidas.

As roupas sujas que eu esfrego no tanque cheio,

Encaro como abluções sagradas e respeito as manchas

Que eu não consigo tirar e a lembrança não me permite alvejar.

Aqueço os meus pés sempre frios com as minhas mãos sempre aquecidas.

Acalento o meu ventre como se sempre eu estivesse prenha.

Forjo braços invisíveis para me envolver nas noites frias.

Sinto que estou dando conta de mim.

(Tatiane Moreira)

 


 

 

 

Comentários

  1. É a minha poetisa preferida. A que escreve o que eu espelho. A que aprende a cada poesia a se ler melhor. A que se sente e se solta a cada verso. É a minha artista-guia! Gratidão Tatiane Moreira!

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  2. O seu dar conta de si também é fogo que ilumina e aquece tantas outras a darem conta de si mesmas...

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