Postagens

Mostrando postagens de maio, 2022

Assovio

Imagem
Ninguém abra a sua porta para ver o que aconteceu: saímos de braços dados, a noite escura mais eu. Começo com o “Assovio” dado por Cecília Meireles. Esse assovio acompanhou-me por toda noite, a noite escura mais eu. Dar os braços para noite significa acompanhar a própria sombra, acolher a solidão, exatamente porque nada significa. O silêncio estava presente, cortado apenas pelo som dos meus passos no asfalto. Da noite, eu não ouvia os passos, apenas sentia seu toque frio envolvendo meus braços. Não temia nenhum assalto. Afinal, como o próprio poema diz: “não posso perder mais nada, se o que houve já se perdeu”. E de perdas somos feitos, estamos todos marcados por alguma impossibilidade, portas e braços fechados para nos receber. Entre o sim e os nãos que recebemos, vamos nos fazendo, tecendo histórias e versos em uma tentativa desesperada de sobreviver aos golpes, as insinceridades, as vilanias de cada dia.  “A noite não sabe meu rumo, eu não lhe pergunto o seu”, já que seg...

Oração a Mãe Selvagem

Imagem
Mãezinha, Venho bater na sua porta já pedindo perdão pelos frangalhos de mim, pelo coração lacerado que chega sangrando e as muitas lágrimas que me impedem as palavras. Obrigada por me receber. Obrigada por ter colado em mim um mapa para te encontrar, um GPS infalível para me colocar em seus braços. Sob seus cuidados as lágrimas vão se abrandando e o coração machucado vai recebendo os remédios, os emplastros de amor e carinho. Seu olhar medicamentoso não julga os caminhos que trilhei nem a condição mendicante em me coloquei. Seu olhar medicamentoso me recorda minha essência inviolável, não importando a quais ou quantas violências eu me submeti. Frente a tudo isso você apenas me abraça. E em seu abraço, mãe querida, me refaço. Suturamos as lacerações, enterramos os mortos e desinfetamos o piso do nosso ser dos passos indignos que caminharam desrespeitosamente sobre nós.  Juntas bordamos planos para recuperar os sorrisos, demarcamos nossos territ...