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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Ouvidos de Vênus

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  Derrama as palavras como líquida água benta   aquecida e fervorosa na minha escuta atenta. Na beira das orelhas ansiosas por partilhas reais e desnudas  desfaça-se de inúteis verborragias. Nos ouvidos de Vênus só há espaço para o essencial, para o visceral, para o que é real. Escutar é minerar ouro. Não valem cascalhos duros e frios. Não valem palavras vazias,  ainda que travestidas de pomposo discurso.  Vale o que o coração pulsa. Valem os gritos do âmago. Vale o desejo quase suicida de se entregar inteiro. Nos ouvidos de Vênus  os sons entram descalços,  deslizam cuidadosos  para o alcance de uma fusão poderosa  que chamamos de compreensão.  Fala, mas pesa as palavras. Recorda de Anúbis pesando o coração dos mortos no submundo. Assim como o coração, as palavras devem pesar feito pena. Nem mais, nem menos.  (Tatiane Moreira)

Canção para um jovem amante

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  Canção para um jovem amante Muito além de uma inspiração masturbante, o desejo é o que vibra em nossas entranhas. Terreno estranho que não cabe asco tudo tem sabor, cheiro, textura. E se não for para se embriagar inteiro é perda de oportunidade de encontro seja entre dois ou mais seres. Ninguém te falou, mas eu disse: - A sexualidade é sagrada, tanto para os santos quanto para os hereges. É nela que geramos vida, não só a possibilidade de um corpo, mas a troca de energia, a geração de memória, a história e a fala dos corpos que se penetram. Quem penetra e quem é penetrado? Não se pode dizer. É o terreno do sentir e sentir basta. Os limites do eu se dissolvem, são as águas a nos fertilizar. É tudo tão rico que não cabe a pobreza das repressões, os nãos vividos, as não entregas, os não-me-toques. Quando estiver diante de outro ser – se entrega. Vá além da performance. Cada corpo é um instrumento que é preciso aprender a tocar. E instintiv...

Um olhar perineal

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Ilustração Ana Persona (Disponível em:< https://theintercept.com/2018/09/10/pontodomarido/>. )  Um olhar perineal Estive em uma consulta ginecológica de rotina. E enquanto espero e percebo as várias outras mulheres em espera, penso nas entranhas dos nossos corpos e o quanto para tantas, ainda é um corpo estranho com o qual, muitas vezes não dialogamos. Temos as sensações de prazer, dor, mas o quanto isso transpassa nossa consciência? Tenho 43 anos recém-completados e estamos em 2021, ainda atravessando uma pandemia que me parece eterna. Ano passado devido a essa situação pandêmica, não fui a nenhuma consulta, então preciso ir. (Preciso?) O ginecologista, um senhor de talvez sessenta anos, desgrenhado com sua cabeleira grisalha. Mais preocupado em digitar com dois dedos do que em me ouvir, e olha que nem é uma consulta do Sistema Único de Saúde brasileiro, mas conveniada, e que dependendo da visão capitalista do distinto médico, dá no mesmo. O que infelizmente signifi...