Ouvidos de Vênus
Derrama as palavras como líquida água benta aquecida e fervorosa na minha escuta atenta. Na beira das orelhas ansiosas por partilhas reais e desnudas desfaça-se de inúteis verborragias. Nos ouvidos de Vênus só há espaço para o essencial, para o visceral, para o que é real. Escutar é minerar ouro. Não valem cascalhos duros e frios. Não valem palavras vazias, ainda que travestidas de pomposo discurso. Vale o que o coração pulsa. Valem os gritos do âmago. Vale o desejo quase suicida de se entregar inteiro. Nos ouvidos de Vênus os sons entram descalços, deslizam cuidadosos para o alcance de uma fusão poderosa que chamamos de compreensão. Fala, mas pesa as palavras. Recorda de Anúbis pesando o coração dos mortos no submundo. Assim como o coração, as palavras devem pesar feito pena. Nem mais, nem menos. (Tatiane Moreira)