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Mostrando postagens de março, 2021

(Des)encontro

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  O Abraço de amor do Universo, a Terra (México), eu, Diego e Senhor Xolotl, de Frida Khalo, 1949. (Des) Encontro Entre Eros e Psique Um acordo tácito Ela não poderia vê-lo Talvez porque ao ver Não enxergamos só beleza Também todos os aspectos Infelizes, inaceitáveis, contraditórios Somos o que somos Não dá para esconder Somos traídos por nossa própria língua   O que buscamos no outro? O que buscamos em nós? É a partir dessa busca Que se dará um encontro Talvez comunguemos corpos e línguas Talvez comunguemos ideias Talvez não haja nenhuma liga   A profundidade só se dará Sobre o quanto nos permitirmos ser tocados Despidos da nossa carapaça de proteção Abdicando das lentes de expectativas Projeções Abraçando juntos Nossa própria imperfeição. (Tatiane Moreira para Ele)   Secret Affair Between a Married Man and a Married Woman, 1799 Kitagawa Utamaro (1753-1806)     
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  Hoje a esperança bateu na porta. O medo que me acompanha hesitou. Deixá-la entrar significaria voltar a acreditar na vida. Mas como em meio a essa pandemia? Ou frente a um estado desgovernado? Como? Se tantos estão sofrendo, morrendo? Lá de fora, a esperança apenas assoviou. -Está só despistando, sussurrou o medo. Talvez seja mesmo necessário, despistar essa tristeza para roubar um sorriso. Hoje a esperança bateu na porta. E apesar de todos os motivos para não a receber, justamente por tudo isso é preciso acolhê-la. Abrigar nas entranhas essa força tamanha que não tardará a lutar. O medo arredou, deu espaço. A esperança me deu um forte abraço. E me engravidou! (Tatiane Moreira)

Procura-se imóvel de movimentada poesia

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Olho para casas como se procurasse parceiros para uma relação a longo prazo. Tento sentir a energia, se há afinidade para longas horas de trocas dialógicas. Se as janelas me sorriem, se a porta se abre. Se há flores selvagens brotando em alguma fresta. Se há espaço para festa e celebração da vida. Quais sons ela emite? Qual memória guarda? O cheiro é bom? Tem personalidade? Possui algum vão secreto para a gente se amar? Quais goteiras esconde para chorarmos juntos? Há carinho sob a pintura descascada? Tem algum projeto de floresta no quintal insuspeito? Possibilidade de produção e tráfico de sementes crioulas para futuros campos férteis? Olho para casas como se procurasse parceiros para uma relação a longo prazo. De vigas inabaláveis, feito braços longos e firmes para a donzela repousar. De muros protetores contra invasores. Felinos contra ratos. De palavras doces e olhar manso daquele que já sabe que não vale a pena viver em estado de guerra, pois a v...

Violências

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  Muito cedo aprendi que os valores não eram os mesmos para meninas e meninos. E meu pequeno corpo aprendeu a docilidade amarga do sim, aceite! Aceite que te maltratem, que não se desculpem, que te desvalorizem. Tornar-se mulher foi aprender o lugar do desvalor. Da palavra sem voz, da voz sem escuta. Do choro sem consolo, da violência sem defesa. Como muitas antes de mim, aprendi a sorrir para o agressor. A transmutar fel em mel. Venho de um longo percurso de violências: Meus seios ainda nem tinham despontado e já me chamavam de puta, pelo tamanho da minha saia na escola, aos nove anos de idade. Cresci convivendo com meninas e mulheres, que como boas filhas do patriarcado, consideravam umas às outras como competidoras, traidoras, infiéis. Certa vez passando pela rua, um grupo de rapazes me lançaram a palavra costumeira: puta! E eu não teria ninguém a quem recorrer para me defender. Reuni toda coragem que uma jovem de doze anos pode reunir e chutei um deles. Com a minha parca força...