Os olhos que eu quero arrancar de mim

Enxergar não é natural.

Sobre nossos olhos, nossa mente, nosso afeto

estão poderosas lentes culturais,

que leem e julgam a realidade de maneira confinada.

Esse olhar medidor de corpos e juventude.

Esse olhar que impede potências de se realizarem,

porque o que vale é manter o status quo

e converter tudo em lucro.

Quero arrancar de mim esses olhos.

Orientados pelo sexismo

que nos dividem em caixas apertadas

geradoras de claustrofobia e violências.

Quero me livrar dos rótulos naturalizados,

mas que são forçosamente construídos, impostos.

E reconfirmados por tantos formatos e configurações:

a cuidadora nata de crianças, doentes e idosos.

Quero também hastear a bandeira da liberdade sexual!

Mas quanto o meu corpo está liberto do olhar patriarcal?

E que por trás da pretensa liberdade continua servindo

a libido insaciável do Capital.

Arrancar esses olhos é descolonizar sentidos.

Recuperar o território do próprio corpo, 

Valorizar sua geografia, extirpar os enxertos –

sempre atenta e vigilante as armadilhas

que se farão hidra de muitas cabeças para continuar explorando-o.

Reaprender antigas línguas para uma linguagem

plural, diversa, não imperialista,

inclusiva, não racista.

Para enfim soltar o peso dos ombros

e ser apenas livre.

(Tatiane Moreira)







Comentários

  1. Alô, editores e editoras deste Brasil !!! Esta mulher merece um livro solo. Um não, dois: Um de crônicas e outro de poemas. Vocês precisam agilizar isso...

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