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Mostrando postagens de agosto, 2021

Mil lágrimas

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Itamar Assumpção e Alice Ruiz escreveram uma doce canção de sobrevivência feminina e a retomo aqui como quem despeja unguento em feridas: Em caso de dor ponha gelo Mude o corte de cabelo (mude como modelo) Vá ao cinema dê um sorriso Ainda que amarelo (esqueça seu cotovelo) O mais importante aí é o movimento, a dor, o sofrimento tende a nos paralisar. Mover-se e dedicar-se a alguma ação, ainda que simples como um corte de cabelo (quanta potência há num corte de cabelo quando uma mulher decide por si mesma enfrentar alguma situação!), uma ida ao cinema, o exercício de voltar a sorrir pode nos ajudar imensamente, ainda que sustentar esse sorriso não seja fácil, o façamos por nós mesmas e pelos que convivem conosco, para tanto é preciso esquecer o próprio cotovelo. Se amargo for já ter sido Troque já esse vestido (troque o padrão do tecido) Saia do sério deixe os critérios Siga todos os sentidos (faça fazer sentido) A cada mil lágrimas sai um milagre Quebrar padrões, mudar a...
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Avô, peço a morte para as partes de mim Que não ouvem, nem falam a verdade Que são cegas de mais para ver. (Jamie Sams – As cartas do Caminho Sagrado) Na sabedoria dos povos da América nativa, toda morte representa o início de um ciclo de vida. No girar da roda da vida, todos chegaremos aos lugares e encontros com pessoas com as quais teremos lições a aprender. E uma vez aprendida, a roda segue seu giro, nos apresentando ciclos de morte e renascimento. Sinta se o seu ciclo atual de vida está se iniciando, ou finalizando? Saber isso é importante, exatamente por lhe ajudar a nortear os seus passos. Todo início é como um recém-nascido precisa de cuidado, atenção, alimentação adequada, amor. A ausência destes cuidados, faz com que morram oportunidades preciosas de que seu novo ciclo cresça saudável, esse novo ciclo pode ser um relacionamento, uma nova fase no trabalho, a oportunidade de resgatar laços com familiares. Como você tem tratado os inícios dos seus ciclos? Quantas oportun...

Meu repertório

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Algumas roupas não me servem mais. A menina com fome de pai  saciou-se consigo mesma e está satisfeita. Outras roupas se tornaram antiquadas, pois não vou mais usar minha raiva contra mim mesma. Transformo-a  num rugido de borboleta. Bela e feroz, frágil e forte. Não possuo todo o conhecimento, mas encarno minha verdade.  Minha pele, minha colcha de retalhos feita do mais fino tecido das emoções costurado com as linhas multicores dos sentimentos. Ainda há muitos pontos alinhavados, pois não sei se é aí que devem ficar. Há histórias que é preciso carregar na alma, não como chaga, e sim como chave para adentrar as novas portas da percepção. Das roupas que me desfaço desato os laços. Algumas doo, outras destruo. E embora, no momento, nenhuma outra roupa eu possua  estou feliz com minha nudez  simples e absoluta. (Tatiane Moreira) Bordados  da artista  Michelle Kingdom

TPM – (Tempo de Processar as Macerações)

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  Da primeira vez que partiram meu coração Chorei muitas, muitas lágrimas Não era só um tempo, era uma impossibilidade De ser e de estar presente Era um não querer... Da segunda vez que partiram meu coração Chorei milhares e milhares de lágrimas Em milhares de vezes  Nas quais o raso amor me disse não Conheci maus tratos, violências, traições... Herdei dívidas e muitas marcas de combate Da terceira vez que partiram meu coração Mais uma vez eu não era bem-vinda Nem minha presença festejada  Eu era mais um item de uma vida ruim E por mais que eu ali tenha me esforçado para fazer morada Não havia nada a ser construído, mas marretado, disseram. Mais uma vez negada, apartada.  Não haverá uma quarta vez,  onde colocar o coração é agora  Uma enorme e necessária responsabilidade E ela só pode estar em minhas próprias mãos. Sigo tratando as feridas, algumas já cicatrizam Outras, ainda sangram e choram  Não mais com amargura Afinal os cactos florescem É com a fo...

Distâncias

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Mesmo pupila a pupila  Um piscar de olhos nos separa  Mas uma vez senti Serem os seus lábios, os meus  Seria ilusão ou seria uma lágrima que compartilhamos? Entre sentir e dizer Há uma longa travessia de porquês Talvez eu seja você  E você seja apenas brisa Como pode um toque tão suave Arrepiar e estremecer meus mamilos? Não sei se é sua língua ou seu cheiro Mas há algo a me entorpecer Como um véu de névoa Ocultando  A face da noiva - lua nova ovulando - E seus cílios tocando de leve minhas coxas. (Tatiane Moreira)

Os poetas voltaram na roupagem de MCs

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Os poetas voltaram Não mais poesia presa nas páginas de um livro É grito, gemido, batida ritmada Os poetas voltaram  Na roupagem de Mc’s Poesia Marginal Protesto gutural Parido nas vielas, Vilas, favelas No asfalto negro Na pele preta Cravejado de bala, de lágrima É grito, gemido, batida ritmada No embalo dos corpos A voz desnuda os prantos ancestrais  Os poetas voltaram  Encarnaram Mc’s São livres pensadores, filósofos, anarquistas Meninos de olhos envelhecidos  Delírios de uma AR-15 Extraindo da vilania seus versos crus Sonorizando o sistema carcomido Lançando ao ar: palavras Feito setas envenenadas ou boias salva-vidas Denunciando, propagando, difundindo O amor em meio ao caos O ouro em meio ao lixo A vida sempre sagrada ainda que negada ferida, baleada É grito, gemido, batida ritmada Os poetas voltaram  Deixa cantar os Mc’s (Tatiane Moreira )

Liquefeito

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  Atravessamos tempos líquidos, nada é para durar, conforme aponta Bauman. Consumimos desenfreadamente os recursos da terra, a ponto de colocar nossa própria sobrevivência em risco. Passamos também a consumir pessoas, com a mesma voracidade com que devoramos as temporadas das séries midiáticas, com a mesma pressa com que passamos a timeline das redes sociais. Vemos, mas não enxergamos o outro a nossa frente, não lhe ofertamos nossa presença, facilmente dispersa pela vibração do celular nos chamando para mais uma mensagem, outro contato, nova notícia, outra promoção. As relações, frágeis, se liquefazem e desaparecem no ralo breve do tempo. Nada é para durar. Histórias que descartamos num simples apagar de uma conversa, contatos que bloqueamos sem a leve consideração de um motivo, fruto de um narcisismo cego, em que só é possível mirar nosso melhor ângulo e qualquer confronto ou questão que nos ameace o olhar para além da imagem idolatrada do próprio eu, é afronta, é problema, é pe...

Por mais mãos trabalhadeiras!

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No livro: "Memórias de uma mulher impossível" da admirável Rose Marie Muraro, há uma dedicatória incomum e só compreensível para pessoas conscientes do quanto o trabalho doméstico utiliza do nosso tempo, da nossa energia e inspiração. Ela escreve:  "Às minhas empregadas, Valéria e Rosilene, cujas mãos trabalhadeiras libertaram as minhas para eu poder escrever."  Toda mulher que abraça uma dupla jornada de trabalho sabe o quanto é difícil chegar em casa e ainda ter toda a necessária tarefa doméstica para poder efetuar. Está sobre seus ombros, o sustento seus e dos seus filhos e ainda a água do filtro, o almoço para o dia seguinte, a limpeza do banheiro dentre outras tantas tarefas centralizadas e normatizadas sobre a figura feminina.   O tempo para um poema, para uma dança, um desenho, para a leitura ou escrita da página de um livro sonhado ou é adiado por um cansaço justificável, ou não é executado por falta de libido, que gera falta de inspiração, ou ainda é vivi...

A direção dos afetos

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Que a direção dos nossos afetos  encontre braços fortes  e corações abertos, dispostos a entrega. E caso não haja encontro, que possamos nos encontrar em nós mesmas!  E nos ofertar o nosso próprio amor,  desfrutar da delícia  da nossa própria companhia, dos sabores do nosso próprio corpo. E nos presentear com orgasmos do nosso próprio toque. Se embriagar de si mesma e se desfazer do amargo lamento do desprazer alheio. Você sente prazer consigo mesma? Consegue gozar consigo mesma? Aprendeu a gostar da sua própria companhia? Ou seu prazer ainda está girando em torno dos outros, que podem não ter a mesma profundidade para te oferecer? Escrevo sobre generosidade, a mesa cheia e posta que somos  em nossa inteireza. Resgatar a riqueza que somos passa pelo caminho de abandonar  presenças pobres de afeto, dispensar migalhas carinho quando temos em nós  todo um banquete de prazer e vida para nos satisfazer.  (De Tatiane Moreira, com carinho para nós e...
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Uma página em branco e tanto a dizer. Mas como é difícil extrair do silêncio a percepção congelada. Então tudo começa com um aquecimento: Das mãos, dos lábios e sinto a vulva sempre em chama. Fogo que arde sem se ver. E cozinha no caldeirão uterino tudo o que é preciso sentir para então dizer. Andanças que aparentemente não levaram a nada, danças solitárias pelas madrugadas. Orações e lágrimas. Bem-me-quer, mal me quer Qual pétala sobrará? Ficará tudo bem se a cabeça estiver ancorada na sabedoria. Ficará tudo bem se o coração abraçar cada novo recomeçar. A lua segue em seu giro cíclico. A loba uiva para as estrelas. Sigo com a alma tatuada por doces e amargas lembranças. Já que não é possível se desfazer da bagagem, é possível, sim, torná-la mais leve por amor ao nosso próprio passo. E assim transmutamos chumbo em ouro extraindo do todo vivido, o precioso aprendizado. Você pode não ter me permitido tocar sua alma. Eu me permiti seu toque e to...